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Pintura de Lisboa em 1693

 

A  Península Ibérica formou, plasmou e constituiu a sociedade sob o império da guerra. Despertou, na história, com as lutas contra o domínio romano, foi o teatro das investidas dos exércitos de Aníbal, viveu a ocupação germânica, contestada vitoriosamente pelos mouros. Duas civilizações - uma do ocidente remoto, outra do oriente próximo - pelejaram rudemente dentro de suas fronteiras pela hegemonia da Europa.

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Das ruínas do império visigótico, disciplinado e enriquecido pela cultura dos vencidos, dilacerado em pequenos reinos, gerou-se um mundo novo e ardente, que transmitiu sua fisionomia aos tempos modernos. Do longo predomínio da espada, marcado pelas cicatrizes gloriosas, nasceu, em direção às praias do Atlântico, o reino de Portugal, filho da Revolução da Independência e da Conquista!

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"O Reino de Portugal é tão guerreiro, que nasceu com a espada na mão, armas lhe deram o primeiro berço, com as armas cresceu, delas vive, e vestido delas, como bom cavaleiro, há de ir para a cova no dia do juízo" - já dizia um anônimo escritor do século XVII sobre a terra dos sonhos!

 

A região encantadora do Norte de Portugal, entre os rios Douro e Minho, corre o rio Cávado, que descendo a Serra de Gerez, banha uma zona fértil, entrecortada de olivais frondosos, alentados pinheirais e de castanheiras seculares.

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Já naquele tempo poderíamos dizer de Portugal: "Jardim da Europa à beira mar plantado". Fragmentado em pequenas propriedades, parece de fato um jardim redolente de aromas de primavera, enfeitado pelos trigais ceifados reunidos em feixes e medas pelos vinhedos alinhados, acompanhando todas as ondulações de montes e vales. Clima acariciante, esplendor de paisagem, resplandecência do colorido, fazem desta minúscula zona um atrativo grandioso para os que andam pelo mundo a procura do belo.

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Além das cidades importantes de Barcelos e Espozende, à margem do rio, surgem aqui e acolá aldeias, povoados, granjas movimentadas e quintas tradicionais, abrigando uma população forte e vigorosa e de notável capacidade de trabalho, população rústica e viril, evocando um suave mundo rural no qual se os homens viviam à larga, não lhes faltava o essencial; havia saborosos vinhos, caldo verde e bons petiscos, trovas populares cantadas ao ritmo marcante das guitarras debaixo de sebes românticas onde suspiravam graciosas filhas do Douro, ricas pelo brilho e vida de seus grandes olhos. [...]

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O parcelamento das terras nesta fértil província portuguesa, permitindo que cada um amanhecesse o seu quinhão, sendo poucos os que nada possuíam, constitui, talvez, o fator econômico e social das mais transcendentais influências nos usos, costumes hábitos e mentalidade dos minhotos. Formou-se uma nobreza, não de sangue, mas rural, presa à gleba, com avós que já tinham plantado a vinha e murados terras desde o tempo de D. Diniz, edificando o Reino como disse Alexandre Herculano, com uma enxada e com uma lança. Entre os povoados menores notamos São Miguel das Marinhas, São Tiago de Carapeços, o lugar Pinhote e outros; entre as famílias abastadas destacavam-se os Monteiros de Barros e os Vieiras Repinchos.

 Nessas terras plácidas começa a Nossa História!

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