Genealogia das Línguas
Em todo o mundo se falam, atualmente, cerca de 2.500 línguas. No passado, com toda probabilidade, o número era maior, o que dificulta estabelecer uma classificação que seja universalmente aceita.
Uma língua se define por suas características diferenciadoras. As diversas variantes adotadas regionalmente são denominadas dialetos, e frequentemente um deles, por motivos políticos, históricos ou culturais, se impõe para servir como base da língua culta e literária. Do ponto de vista histórico, considera-se também que toda língua é um dialeto em relação àquela de que provém. Assim, todas as línguas românicas, como o português, o espanhol e o francês, seriam dialetos do latim.
Critérios de classificação
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O primeiro critério de classificação das línguas é o que distingue entre línguas vivas, ou faladas na atualidade, e línguas mortas, conhecidas apenas por meio de documentos, embora possam continuar sendo empregadas para uso escrito.
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Segundo outros critérios, algumas línguas são oficiais, quando adotadas por um estado para uso de seus habitantes; línguas de cultura, quando possuem literatura escrita; e línguas artificiais, quando criadas para utilização exclusiva de grupos fechados ou com o objetivo de se tornarem instrumentos universais de comunicação, caso de que o esperanto é o principal exemplo.
As línguas são usadas em diferentes registros, segundo as necessidades de comunicação. Nesse sentido, destaca-se a distinção entre língua vulgar e língua culta. A língua falada e a escrita também apresentam grandes diferenças, já que, embora sejam inter-relacionadas, muitas vezes seguem caminhos diversos. A língua escrita é mais explícita e precisa, pois lhe falta o apoio do contexto partilhado entre emissor e receptor da conversação oral; é também mais rica em recursos expressivos e mais conservadora. Uma variedade muito importante da língua escrita é a língua literária, usada com fins estéticos.
Do ponto de vista estritamente linguístico, pode-se classificar as línguas segundo o parentesco tipológico de sua estrutura interna. De acordo com esse critério distinguem-se quatro grupos fundamentais de línguas: isolantes, aglutinantes, flexivas e polis-sintéticas. As isolantes, entre as quais se encontra o chinês, caracterizam-se por formar as frases mediante a justaposição de uma série de elementos léxicos monossilábicos e invariáveis. As aglutinantes apresentam grande riqueza de afixos, partículas que formam palavras derivadas, completamente independentes em conteúdo e função; a esse grupo pertencem, por exemplo, o turco e o finlandês. As línguas flexivas, que incluem as indo-europeias e as semíticas, estabelecem as relações gramaticais por meio de modificações sofridas pela parte variável da palavra. Nas línguas polissintéticas, que compreendem algumas línguas ameríndias e as esquimós, as palavras se apresentam como conglomerados de elementos semânticos e gramaticais equivalentes a uma frase.
A tendência tradicional, porém, tem sido classificar as línguas segundo seu parentesco genealógico. Agrupam-se em famílias todas as línguas que têm um mesmo tronco, seja ele conhecido (como o latim no caso das línguas românicas) ou hipotético (como a suposta língua indo-europeia primitiva). O estabelecimento do parentesco entre várias línguas é polêmico, já que, mesmo quando se encontram indícios favoráveis a uma hipótese, podem faltar dados includentes a respeito. Algumas línguas apresentam-se isoladas sem que seja possível achar uma vinculação clara com outros idiomas, como ocorre com o basco.
Famílias e Grupos Linguísticos
Segundo a genealogia, as línguas se classificam em grandes famílias, divididas em grupos, subgrupos e ramos. A classificação aqui apresentada acha-se sujeita a variações segundo os diferentes autores, que podem estabelecer unidades maiores ou menores. Ou seja, as tentativas de agrupar essas famílias, grupos e subgrupos se baseiam mais em hipóteses, de maiores ou menores fundamentos, que em dados irrefutáveis.
(1) Família indo-europeia, a mais estudada e de maior número de línguas, que compreende pelo menos oito grupos vivos (o indo-irânico, o armênio, o céltico, o germânico, o itálico, o balto-eslavo, o grego e o albanês), e dois grupos extintos (o anatólico e o tocariano);
(2) Família camito-semítica ou afro-asiática, com os subgrupos semíticos ocidental e oriental, o aramaico-cananeu (a que pertencem o aramaico e o hebraico), o arábico-etíope, o egípcio-copta, o líbico-berbere, o cuchítico e o tchádio;
(3) Família caucasiana, que compreende um grupo muito numeroso de línguas faladas na vertente meridional do Cáucaso, com dois grupos fundamentais: o norte-caucásico e o sul-caucásico (no primeiro sobressaem os subgrupos das línguas tchetcheno-daguestanianas e tchetcheno-lesguianas; no segundo estão línguas como o georgiano e o mingrélio);
(4) Família fino-úgrica ou uraliana, com os grupos lapão, fínico (a que pertencem idiomas como o finês ou finlandês, o carélio, o estoniano e o morduínio), úgrico (a que pertence o húngaro) e samoiedo;
(5) Família altaica, que com as da família anterior forma o grande conjunto lingüístico uralo-altaico, e compreende os grupos manchu-tungúsio, turco, mongol, japonês e coreano;
(6) Família dravídica, com línguas como o télugo, o tâmil e o malaiala;
(7) Família sino-tibetana, com os grupos das línguas chinesas e tibeto-birmanesas;
(8) Família austro-asiática, com os grupos munda, mon-khmer, a que pertence o khmer (língua oficial do Camboja) e o vietnamita;
(9) Família malaio-polinésia, com os grupos indonésio, polinésio e melanésio.
Muitas línguas não chegam a constituir a grande divisão conhecida como família e atingem, no máximo, a formação de um grupo:
(10) Grupo nilo-chariano, que compreende os subgrupos nilo-camítico e sudanês;
(11) Grupo nilo-saariano, com o subgrupo songhai;
(12) Grupo nígero-congolês;
(13) Grupo khoi-san, das línguas hotentote e boximane;
(14) Grupo de línguas indígenas americanas ou ameríndias.
Outras línguas - São numerosas as línguas sem nenhum vínculo claro com outras. Exemplos significativos são o basco, talvez relacionado com as línguas caucasianas, o aino do Japão, os dialetos das ilhas Andaman e o burushaski da Índia. Entre as línguas mortas de parentesco ignorado acham-se o sumeriano, falado na Mesopotâmia, e o etrusco, na Itália.