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Lucas Antônio Monteiro de Castro

8.9 - 2º Barão de Congonhas do Campo

 Nono filho de Domiciano Ferreira de Sá e Castro e Maria do Carmo Monteiro de Barros. Nasceu no ano de 1808 na Fazenda Morro do Santo Antônio, Freguesia de Congonhas do Campo. Após os falecimentos de seus pais, Lucas Antônio cresceu sob apoio do seu tio materno, o Coronel José Joaquim Monteiro de Barros, e de sua irmã mais velha, Maria da Conceição Monteiro de Castro, e teve muitas profissões: foi fazendeiro, tesoureiro da Fazenda de Minas Gerais; juiz municipal, vereador de Vila Rica no triênio de 1853 a 1856; juiz de paz e subdelegado de Congonhas do Campo; membro da Assembleia Legislativa Provincial no biênio de 1874 a 1875; major da Guarda Nacional e recebeu a graduação de oficial da Imperial Ordem da Rosa, do Império do Brasil.

 

A Guarda Nacional foi uma força paramilitar organizada por lei no Brasil durante o período regencial, em agosto de 1831, para servir de "sentinela da constituição jurada", já por sua vez a Ordem da Rosa era um título que premiava militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se distinguissem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado, e comportava um número de graus superior às outras ordens brasileiras e portuguesas então existentes. 

O Barão casou duas vezes:

 

  • Estreitando os laços familiares, Lucas Antônio oficializou seu primeiro casamento com sua própria prima/sobrinha Helena Maria Monteiro de Barros, filha do seu tio e de sua irmã citados anteriormente. A consanguinidade não podia ser maior. Helena Maria nasceu no dia  15 de outubro de 1819, em Rio Pardo, Rio Grande do Sul, lugar onde seu pai atuava na mineração. Foi batizada na Igreja Nossa Senhora do Rosário em Rio Pardo no dia 29 de outubro de 1819. Provavelmente voltara para Minas quando seu pai, o Coronel José Joaquim, ganhou a guarda dos filhos de Maria do Carmo, quando Domiciano Ferreira falecera em 1823. Helena criou então laços com Lucas Antônio e de acordo com Brotero, esse casamento ocorreu provavelmente depois de 1833 e antes de 1839. Em 4 de junho de 1856, Helena veio a falecer em domicílio na cidade de Ouro Preto, deixando numerosos bens aos seus filhos. Bens estes pertencentes aos Monteiros de Barros, inclusive ações no Banco do Brasil não mencionadas no inventário pelo inventariante que foi o Barão. Tal documento foi redigido no dia 13 de dezembro de 1859 pelo escrivão, Juiz Municipal e de Orfãos da cidade de Ouro Preto, Francisco de Paula Soares Ferreira. Estas ações só foram citadas anos mais tarde no inventário de Lucas Antônio, causando grande reviravolta no caso.

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  • A segunda vez, por contrato antenupcial, Lucas Antônio casou com Belarmina Emiliana Monteiro de Castro (sol. Belarmina Emilianna d'Oliveira). Esse contrato constava-se na folha 148 do 1ª auto dos inventários do Barão e de Belarmina, sendo esta escritura datada do dia 16 de setembro de 1863. Todavia o documento que reside na Casa do Pilar, em Ouro Preto encontrou-se rasgado justamente nesta página. Nesta data do contrato o casal já tinha seus 3 primeiros filhos, sendo algo inédito relatado na genealogia dos Monteiros de Barros, já que naquela época casar com filhos era considerado um escândalo. Belarmina foi filha de Prudente Emiliano de Oliveira Machado e Bernarda Paula de Athaíde. Prudente exercia o papel de Júri, em 1836, na cidade de Congonhas de acordo com o Jornal O Universal, ano 1836, edição 42. A partir de 1832, com a aprovação do Código de Processo Criminal, surgiu o Júri que passou a ter atribuições importantes no Poder Judiciário do Império.

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Em 10 de novembro de 1864, já casado com Belarmina, Lucas Antônio requereu ao Excelentíssimo Presidente da Província de Minas Gerais, o então Desembargador Pedro d'Alcântara Cerqueira Leite, através de uma carta redigida a punho, a graça de nomeá-lo barão já que julgava relevante os seus serviços prestados na cidade e para com o país: Entre esses foi citado uma reforma feita na Igreja Matriz da cidade de Congonhas. Uma coluna no Jornal Diário de Minas, Ano I, Edição 187, do dia 23 de fevereiro de 1867 mostra o requerimento de uma quantia de 471$200 réis gastos na reconstrução de uma ponte sob o rio Maranhão, demonstrando que Lucas Antônio realmente cumpria seu dever, no alicerce de um esforço hercúleo para o bem da população congonhense. Para seu aprazimento, em 17 de maio de 1871, por decreto do Imperador Dom Pedro II, ele foi agraciado com o título de Barão em Congonhas do Campo, e por conseguinte Belarmina Emillianna Monteiro de Castro, a Baronesa. Seu estimado tio, Lucas Antônio Monteiro de Barros, até então foi o último que recebera o mesmo título nobiliárquico no dia 12 de outubro de 1825. Todos os 1.211 títulos concedidos nos 67 anos de Império foram ad personam, isto é, valiam apenas para a pessoa agraciada em vida, pois a nobreza brasileira não é hereditária.

Algumas curiosidades foram achadas sobre o Barão de Congonhas em alguns jornais da época: Através do jornal A Actualidade, da capital vigente da época, em 7 de junho de 1879, apurou-se que o Barão possuía uma residência na Rua São José, na cidade de Ouro Preto.

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O jornal Diário de notícias, ano II, nº 246, do Rio de Janeiro publica numa sexta feira do dia 26 de maio de 1871 os decretos do Ministério do Império concedendo títulos de Barões aos prestigiados nobres do Império. O nome de Lucas Antônio se encontra na última linha do recorte de jornal:

Sobre a história de sua segunda esposa, Belarmina, temos pouco a contar. Belarmina teve um curto espaço de tempo no título de Baronesa, apenas por dois anos, interrompidos por sua morte em 16 de outubro de 1873. Por intermédio de pesquisas na Fundação Biblioteca Nacional foi descoberto no Jornal Diário de Minas, Anno I, Edição 158, datado de 31 de outubro de 1873, uma coluna escrita por Hermógenes d'Oliveira Carmo, que na verdade, foi o discurso fúnebre pronunciado no dia do enterro da mesma. Nele podemos ver o quanto a inumada Belarmina era bastante querida pela população de Congonhas no período em que atuou como Baronesa:

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"O som lugubre e plangente do bronze sagrado, que acabamos de ouvir, nos anuncia que uma vida preciosa é cortada no meio de sua carreira, e que desce a campa do tumulo, deixando entregues ao echo da mais pungente dôr uma familia inteira e todos os Congonhenses, que hove com justos motivos pranteão a morte prematura e sentidissima da virtuosa Baronesa de Congonhas de Campo, a Excelentissima, D. Belarmina Emiliana d'Oliveira.

 

A tristeza, que em vossos semblantes vejo estampada, o silencio monotono, que reina sob as abobadas d' este recinto sagrado, as lagrimas por todos derramados e com especialidade as dos pobres, são, senhores, a prova mais evidente de que o esposo perdeu uma esposa idolatrada, os filhos uma mai incansavel e carinhosa, os pobres o arrinco de sua indigencia, e o povo em geral aquella que acudia-lhe em suas necessidades. Sendo assim, porque, o' morte, porque não retardaste os golpes fataes de tua devoradora fouce? Porque não respeitaste as virtudes, a caridade e outras qualidades excellentes, que brilhantemente ornavão a alma da finada Baroneza? Na verdade és o flagello da humanidade! É’s a sanguessuga, que se compraz em derramar sangue humano, não poupando teus golpes ao moço, nem ao velho, penetrando igualmente no sumptuoso torreão do rico, assim como na humilde choça do pobre! Todos ante tua presença curvão-se reverentes, e todos os dias não cessas de ceifar vidas preciosas. Hoje principalmente alcançaste completa victoria, hoje sobretudo zombaste da fragilidade humana, fazendo curvar sua fronte ao teu cortador alfanje uma creatura justa e caridosa, cujos dias erão uma serie interrupta de beneficios, que com o sorriso sempre nos labios derramavão seu auxilio; porém aonde me arrebatas o' dor?

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Acaso sua alma não desprendeu-se somente dos laços do corpo, para voar a região dos justos, para ahi ser coroada com a aureola da gloria, e ocupar o lugar justamente conquistado por suas virtudes? Sim, senhores, a finada Baroneza, depois de purificar-se o crysol da virtude, depois das luctas no campo da vida, canta no céo o hymno da victoria, e lá n'essa mansão eterna goza da felicidade eterna que tem deus reservado para os seus escolhidos.


Que mais nos resta pois? Reunirmo-nos todos em espirito de caridade, e dirigirmos ao céo nossas deprecações pelo seu eterno descanço! Orar, orar pelo repouso de sua alma! Um derradeiro adeus! Algumas lagrimas em frente da urna funeraria! Algumas flôres de saudade desfolhadas sobre ella. Desejar á finada em seu nome, em nome da religião que honrou com suas virtudes, em nome do gremio catholico em que viveu e morreu, a paz do tumulo, o descanço eterno.


Requiescal in pace."

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Preservada a grafia da época

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Em outra coluna do Jornal Diário de Minas, Ano I, nº 157, 30 de outubro de 1873, escrita por Sabino de Sousa Costa, narra o dia fatídico da morte da Baronesa de Congonhas do Campo, Belarmina Emiliana d’Oliveira, encontrando neste texto a causa da morte: devido a uma eclampsia, e juntamente com sua filha recém-nascida. Até então desconhecia-se o motivo de seu falecimento e dessa filha, com nome desconhecido:

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“Á Pedido. Necrologia.
Triste e bem triste por certo é, Senhores, o motivo desta silenciosa reunião! Não assistimos a um espectaculo de regosijo; não vemos aqui as grandezas de soberbos palacios, nem essa aristocracia das côrtes trajando sumptuosas galas... Não!... Os dobres pausados e melancolicos; o gemer plangente do campanario, que ha pouco ouvimos; as funéreas luzes e as luctuosas cores que nos circumdão... tudo nos certifica que se retoca, que se renova o tristonho quadro que ha sete dias representou-se neste recinto sagrado. Esse quadro aterrador nos apresenta com negras e indeleveis cores a realidade do que verdadeiramente somos! Mostra-nos o desfecho final do drama que representamos neste theatro de enganos! Tudo!... tudo neste mundo, Senhores, é ficticio e vão! Só a morte... a eternidade... são realidades crueis!!!

A scena mais lugubre e aterradora representou-se neste sanctuario na tarde de 17 do corrente, da qual muitos de vós forão testemunhas. De um lado, oravão os ministros do altar, entoando as orações funebres, de outro lado, as corporações religiosas e um numeroso concurso, em cujos semblantes se divisavão a dôr e tristeza... e, no centro, um corpo inanimado e frio, tendo a seus pés um anginho, que parecia conduzi-lo a mansão dos justos; ambos pousavão sobre uma eça armada de negro!

O corpo de que vos fallo, Senhores, era o da Exmª. baroneza de Congonhas do Campo, outr’ora D. Belarmina Emiliana de Oliveira Monteiro; e o anginho, era uma sua flha recemnascida!... A ilustre finada, dotada de um coração verdadeiramente religioso, boa esposa, extremosa mãi, boa parenta, muito affavel para com os estranhos e amante da pobreza, vio, cheia de vida, na tarde de 15 do corrente, o sol sumir-se no seu horisonte; e, esperando ella a qualquer hora dar á luz o fructo de seu conjugal amor, foi, ás duas horas manhã do dia 16, atacada de uma eclampsia (como classificarão); incommodo este que zombou de todos os socorros, que seu extremoso esposo pôde ministrar-lhe; e luctando com as agonias da morte por espaço de desesseis e meia horas, no dia 17 pela manhã o bronze sagrado entoava o seu tocar mortuario anunciando o seu passamento.
Este horrivel espectaculo teve lugar poucos momentos depois d’ella ter dado á luz a sua inocente filhinha, que, apenas recebeu o baptismo, voou ao mundo celestial.

As tintas que hoje servem para avivar esse tenebroso quadro são: o dó de que se apresentão cobertos o inconsolavel espozo, os tristes filhos e mais parentes da finada; e a dor e sentimento que se apoderão dos corações dos Congonhenses.
E poderia eu, Senhores, depois de tão tragico acontecimento, conservar-me silencioso? Não! Não quero fazer juncção ao profundo silencio dos tumulos! Ainda mesmo com a voz tremula e abafada, venho pagar uma divida de gratidão á ilustre familia da finada. A mão sinistra do anjo da morte, armada com seu alfange, não respeita posição, sexo, idade, nem virtudes.
Pondo de parte tudo isso, a inexoravel parca descarregou o fatal golpe, cortando assim o fio de tão preciosa existencia, arrancando dest’arte uma virtuosa espoza dos braços de seu amante consorte, deixando na orfhandade seis filhos, que lamentão a falta de sua carinhosa mãi, e cheios do mais profundo sentimento seus parentes e amigos.

Já não existe, Senhores, a baroneza de Congonhas do Campo!... Deixemos que uma lagrima nossa caia sobre a campa que occulta seu corpo e sua alma.

Resquiescat in pace."


Conservada a grafia da época

Fotos do acervo dos descendentes de Arminda Maria Monteiro de Castro Junqueira, filha dos Barões de Congonhas, encontradas na casas do Barão no Largo do Rosário, em Ouro Opreto.

Acima mais uma fotografia dos 2º Barões de Congonhas recebida da prima Luiza Coutinho e um recorte do Jornal Diário de Minas, Anno I, Edição 153, datado de 24 de outubro de 1873 contendo as lástimas dos seus enteados e o convite para a missa de sétimo dia da finada Baronesa.

Mesmo viúvo por duas vezes, Lucas Antônio não se deixou desanimar pelas tragédias que a vida o trouxera e continuou seu trabalho político e social nas terras congonhenses. Ele era do Partido Conservador da época e membro da Assembleia Legislativa. Ao final do seu mandato, no ano de 1875, foi convidado a compor o corpo eleitoral do 1º distrito como deputado da província de Minas Gerais, estimado no Jornal Diário de Minas de 7 de novembro de 1875 com outros nomes do Partido Conservador como “a combinação mais acertada dos membros que podem e devem representar a província”. Na mesma edição do Jornal, Lucas Antônio não aceitou a proposta:

Outro recorte de jornal nos apresenta muito bem o espírito inefável de bondade de Lucas, comprovando que todas as histórias familiares sobre o grande coração do Barão eram verossímeis. Neste recorte do Jornal A Actualidade, Ano I, número 10, datado de 9 de abril de 1878 mostra uma doação de 400$ réis do Barão de Congonhas ao Tesouro Nacional a favor das vítimas da seca na província do Ceará. Muitos descreveriam como um ato político, mas em seu “cerne” ele nunca buscou ambição ou respaldo de alguém para com suas ações sociais:

Um fato inédito era sua posição pró-abolicionista. Quatro anos antes da Lei Áurea, no dia 25 de janeiro de 1885, o Jornal A Província de Minas divulga, em uma coluna, nomes de pessoas que entregaram cartas de liberdades aos seus escravos por intermédio do Excelentíssimo Deputado Dr. Diogo Vasconcelos e Lucas Antônio é citado:

Por suas atuações e seu caráter integro ao longo de sua jornada, o Barão de Congonhas sempre foi muito prestigiado por todos e tinha seus fiéis seguidores. Percebemos isso em outro recorte do Jornal A Província de Minas, da capital Vila Rica, Anno VI, Edição 296, do dia 15 de dezembro de 1885, que se refere ao registro de pessoas com altos cargos no Império que visitavam a capital. O alto requinte em definir as nuances do Barão é sempre observado nas descrições de seus correligionários:

Mas nem sempre isso aconteceu. Lucas possuía rixas com seus opositores, e certo feita, foi alvejado em sua própria casa na noite do dia 4 para o dia 5 de julho de 1882 por grupos desordeiros do Partido Liberal, portugueses, trajados de carapuças vermelhas guiados pelo subdelegado da cidade de Congonhas, Antônio Henrique Eiras. Janelas e telhados da casa foram quebrados a pedra e as portas arrombadas. O subdelegado afirmou que o Barão estava o difamando, pelo mesmo ter sido exonerado do cargo para dar lugar ao então Antônio H. Eiras, e que na noite do dia 4 ocorreu uma magnífica passeata pacífica do Partido Liberal no arraial, motivada pela notícia de estar resolvida a crise ministerial com a organização do novo gabinete liberal, e de fazer parte dele o Exmº Dr. Carlos Affonso, e finalmente extinguir-se a dissidência. A seguir um trecho publicado por Antônio no Jornal Liberal Mineiro de 18 de julho de 1882: 

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"[...] A Nação no seu furor de offerecer ao Lucas de Castro um incenso podre para pilhar-lhe os cobres, de que precisa para sustentar-se, em seu artigo editorial chama a attenção do Exmº presidente para insultos imaginarios, queixa-se de desacatos à pessoa de seu idolo, e nem ao menos 'falou', uma só palavra do motivo, da causa motora desse desacato, que fez vergar e gemer seu prelo. A Nação teve razão de occultar as causas e ora deve estar envergonhada de ter mercadejado sua penna. Em sua consciencia, sabe a nação que em Congonhas não ha desordeiros, sabe que taes insultos são partos fecundos de Lucas de Castro. [...] Mas porque motivo o barão Lucas de Castro, occultando a verdade, fez a Nação tomar uma attitude grave, ainda que burlesca? Sendo Lucas de Castro, senhor desta terra, affecto a receber bajulações dos Manos Velhos o que taes, como sultão soberano, levou a mal que o liberaes festejassem tão grata noticia. Para repressão de tal audacia era preciso desonralisar fora d'aqui a passeata liberal. [...]"

 

Preservada a grafia da época

 

De acordo com o Jornal A Provincia de Minas, Anno IV, Edição 200 do dia 3 de abril de 1884, o procurador do Barão e advogado Antônio Eulálio Monteiro condenou sob audiência pública na corte do Rio de Janeiro aos 19 de março de 1884, não o dito Eiras pelo crime, mas sim José R. dos Santos, conhecido testa de ferro.

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Através de pesquisas com Álvaro Antônio Ferreira Alves, bisneto de Arminda Maria Monteiro de Castro, filha de Lucas Antônio, foi descoberto o inventário do Barão. Este documento se encontra no anexo do Museu da Inconfidência em Ouro Preto, a Casa do Pilar, sendo redigido pelo escrivão do 1º ofício de Vila Rica, Pedro Nolasco Soares de Moura e como inventariante seu filho Domiciano Ferreira, datada a sua conclusão no dia 23 de julho de 1895. Lucas Antônio morreu sem dar um fim aos seus espólios para os herdeiros. Neste documento consta que ele teve quatro filhos com Helena (de 8.7.1 a 8.7.5), sendo que o segundo filho, o Capitão Marcos Antônio, já havia falecido em 1889 e não foi citado no inventário pois não possui descendência; e outros cinco filhos com Belarmina (de 8.7.6 a 8.7.10):
                                                                                                           
8.9.1 - Dr. Lucas Antônio Monteiro de Castro

8.9.2 - Capitão Marcos Antônio Monteiro de Castro
8.9.3 - Joanna Baptista Monteiro de Castro
8.9.4 - Maria da Conceição Monteiro de Castro
8.9.5 - João Baptista Monteiro de Castro

8.9.6 - Bernardina Monteiro de Castro Penido
8.9.7 - Arminda Maria Monteiro de Castro Junqueira

8.9.8 - Domiciano Ferreira Monteiro de Castro

8.9.9 - Augusta Maria Monteiro de Castro  Junqueira

8.9.10 - Francisco Lucas Monteiro de Castro


Lucas Antônio Monteiro de Castro faleceu às nove horas e trinta minutos da noite do dia 4 de junho de 1891 em Congonhas do Campo devido uma lesão aórtica e foi sepultado na mesma cidade no Cemitério da Matriz. Em anotações de Martha Monteiro de Castro, filha de Domiciano Ferreira Monteiro de Castro, neta do 2º Barão de Congonhas, constam seis filhos do segundo casamento, faltando o nome de Josefina Monteiro de Castro, casada com José Maria Monteiro de Castro. Seu falecimento foi anunciado em vários jornais de Minas Gerais. Abaixo um trecho escrito no Jornal A Ordem, da capital Ouro Preto, Anno II, Edição 110, datado de 6 de junho de 1891:

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"Por telegrama que recebemos hontem do nosso estimavel amigo Sr. Lucas Monteiro de Castro, tivemos a triste noticia do fallecimento de seu digno e presado avô, nosso distincto e venerando amigo Sr. Barão de Congonhas do Campo. A morte foi determinada ante-homtem às 9 e meia horas da noite, por apoplexia, mas ha muito que o respeitavel ancião se achava enfermo, tendo se aggravado ultimamente seus padecimentos.


O ilustre barão de Congonhas, tronco veneravel de uma grande e distincta familia, era um dos poucos representantes da velha geração mineira, tão vem caracterizada pela sinceridade das convições, pela singeleza dos affectos generosos e pela constancia do patriotismo o mais puro.
A´terra mineira, que o presava e respeitava, prestou elle muitos e importantissimos serviços, maxime em quadras calamitosas, de que ha registro historico honrossissmo á sua memoria. E a freguesia de Congonhas não póde deixar de prantear, junto ao tumulo do honrado cidadão, a perda do patriarcha de sua sociedade, tão bondoso para todos, e que sempre provou sua solicitude pelo bem estar e pela paz da terra em que nasceu e viveu mais de 80 annos. Amigos sinceros do distincto finado, associadmo-nos  á magua immensa de sua Exmª familia por perda tão sensivel e irreparavel."

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Preservada a grafia da época

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Depois de alguns anos em posse das páginas do inventário do finado Barão de Congonhas, consegui transcrever todos seus bens de raiz, que são os imóveis de qualquer natureza, urbanos ou rústicos. A lista do grande espólio do Barão é surpreendente! Um império na região do vale do Paraopeba. A foto abaixo representa um trecho extraído do inventário, comprovando que a fotografia da década de 1940 mostrando as ruínas do casarão do Barão de Congonhas, onde hoje é o cemitério da Matriz ao lado da Igreja da Nossa Senhora da Conceição, é sim de Lucas Antônio Monteiro de Castro, e não de seu tio, o 1º Barão de Congonhas Lucas Antônio Monteiro de Barros.

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"Uma casa de residencia do finado Barão, ao lado da Matris com pequeno terreno murado de pedra, que depois de vista, percorrida e examinada pelos louvados a avaliaram na quantia de um conto e cem mil reis."

Além do monstruoso império, o 2º Barão de Congonhas tinha setenta e duas apólices da dívida pública geral do valor nominal de um conto de réis, de juros de quatro por cento e pagamento em ouro, mais vinte e seis ações do Banco do Brasil do valor nominal de duzentos mil reis e duas cadernetas da caixa econômica particular de Ouro Preto a quantia de seis contos seiscentos e sessenta e sete mil réis (6:667$000). Somadas as apólices mais a caderneta de poupança, a herança em dinheiro de Lucas Antônio girava em torno de oitenta e oito contos e oitocentos e sessenta e sete mil réis (88:867$000), que valeria hoje R$10.930.641,00.  A seguir a lista dos bens de raiz:

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  • Duas partes na casa em frente ao Senhor Campanhão, compradas a seus filhos Lucas e Marcos sendo cada uma de quatro mil reis, somando oito mil reis; (Brumadinho);

 

  • Mais duas partes em cada uma das duas pequenas casas deterioradas na rua do Fogo, compradas as seus filhos, Lucas e Marcos, sendo a quatro mil reis cada parte importando na quantia de desesseis mil reis; (Brumadinho);

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  • Mais duas partes em cada uma das duas casas no Largo do Sacramento, compradas a seus filhos Lucas e Marcos de dous mil reis cada uma, importando na quantia de oito mil reis;

 

  • No sitio e terras da Vigia, duas partes compradas a seus filhos Lucas e Marcos de dous mil reis cada uma importando na quantia de oito mil reis;

 

  • Um pastinho no lugar denominado Olaria, feichados de muros, e o vallor que os louvados avaliaram na quantia de duzentos e cincoenta mil reis;

 

  • Mais uma parte em campos de Lavras de Dom José, referentes a herança que teve do Padre Manoel Ignácio, que foi avaliada pela quantia de cem mil reis;

 

  • Terras de cultura no lugar denominado Morro de Santo Antônio, na mineração e logradouro calculadas em seis alqueires e quarta, que foi digo quarta ou quinze hectares e dois e meio ares, que foram avaliadas na quantia de duzentos e vinte e cinco mil reis;

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Morro Santo Antônio, Congonhas - Foto de Hugo Castelani Cordeiro. Essas ruínas são da provável Fazenda Morro Santo Antônio, residência onde Manuel José Monteiro de Barros, avô materno de Lucas Antônio, se fixou em Congonhas.

  • Terras de cultura no lugar denominado Daniel contendo dous alqueires, ou quatro hectares e oitenta e quatro centésimos, que foi avaliadas na quantia de cem mil reis;

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  • Meia quarta de terreno no lugar denominado Zacharias (Rosário) que foi avaliada em des mil reis;

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  • Parte nas terras e casas da fasenda do Figueiredo, comprada a Antonio Jose da Silva e sua mulher, por herança que houveram do Padre José Maria Monteiro de Barros (parte de trezentos mil reis)  avaliada por duzentos mil reis;

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  • Parte nas terras e lavras do morro da Goiabeira, comprada a José Maria Monteiro, que a houve por herança do Padre José Maria Monteiro de Barros, avaliada na quantia de quarenta mil reis;

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  • Parte de terras de cultura e campo no lugar denominado Batateiro, comprados a Manoel Leandro Machado, que herdou de sua mãe Joaquina, avaliada por cinco mil reis;

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  • Terras de cultura no lugar denominado Casa de Pedra, compradas a Dona Anna Antonia de Moraes, que as herdou do Padre Manoel Francisco dos Santos, avaliada pela quantia de cicoenta mil reis;

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Atual terreno da Casa de Pedra, com a maior barragem de mineração da América Latina, pertencente a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

  • Uma pequena casa e terreno anexo a mesma nos fundos do sobrado pertencente ao presente monte, que foi avaliado pela quantia de cincoenta mil reis;

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  • Mais uma casa de sobrado muito deteriorada com grande terreno murado de pedra, sem plantações que os louvados avaliarão pela quantia de novecentos mil reis;

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  • Uma casa pequena, apoalhada, deteriorada, em que reside o senhor Manoel Junqueira, com um pequeno terreno ao lado e ao fundo, que os louvados depois de bem percorrer e examinar, avaliarão na quantia de seiscentos mil reis;

 

  • Uma casa pequena térrea na rua da Varsea, próxima a ponte com duas portas na frente e uma janela no fundo para o rio, sem terreno, que depois de vista percorrida e examinada pelos louvados a avaliaram na quantia de cento e vinte mil reis;

 

  • Uma chácara toda plantada de café e bananeiras, murada de pedras, tudo cerca de seiscentos pés de café, que os louvados depois de percorrer e examinar avaliarão na quantia de seiscentos mil reis; (sesmaria);

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Pintura de Sesmaria, por Eliseu Visconti

  • Mais um moinho muito deteriorado no arrabaldes de Congonhas do Campo, no lugar denominado Tijucal, que os louvados depois de examinar avaliaram na quantia de sessenta mil reis;

 

  • Mais uma casa de sobrado com varanda de ferro com entrada por outra casa mais baixa no Largo do Rosário na cidade de Ouro Preto, com terreno dando frente no fundo para a rua da Ponte Secca, que os louvados pelo pleno conhecimento que tem da mesma, a avaliaram na quantia de seis contos de reis; inclusive um fogão de ferro;

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Foto de Álvaro Antônio Ferreira Alves

  • No termo de Bonfim, uma casa, um terreno com seis alqueires mais ou menos = vinte e nove hectares, quarta e meia de terras, cento e oitenta e um ares, no lugar denominado Salto, uma pequena sorte de terras que forão de Mariano Ferreira da Costa, uma outra que foi de Felisberto de tal e seu filho Firmino, sitas no districto de São Gonçalo da Ponte;

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Provável casa em Bonfim, no distrito de São Gonçalo da Ponte, atual Belo Vale, citada no inventário. Os filhos de Domiciano, netos do Barão,  moraram aqui com sua mãe, Maria da Conceição, após a morte precoce do pai.

  • No termo de Queluz, quatro predios, uma sorte de terras no lugar denominado Santa Quitéria e uma outra no lugar denominado Pombal;

 

  • Morada de casas seitas no Districto da Bôa Morte, em quatrocentos mil reis metade de sua morada de casas, terras de culturas e campos que forão do Vigário Antônio José da Silva importando em oitocentos mil reis;

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Igreja da  Nossa Senhora da Boa Morte fundada em 1760 pela bandeira de Gonçalo Álvares e Paiva Lopes.

  • Terras de cultura e (ilegível) na Fasenda da Bôa Vista, que foi de José Pedro Francisco Junqueira em dois contos e quinhentos mil réis;

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Pintura da Fazenda Boa Vista. Arte que pertencia a bisneta do Barão, Raimunda Monteiro de Castro, nascida nesta residência.

  • Fica parte de terras de cultura de dez alqueires mais ou menos na Fasenda do Salto compradas a Felisberto e Fermino de tal em dusentos e cinquenta mil réis. Fica meia quarta de terras de cultura na mesma fazenda do Salto comprada a Maria Helena em dez mil réis;


Conservada a grafia da época.

Nada pode ofuscar o brilho da paz que a família é convidada a irradiar no mundo. Contudo, essa afirmação nem sempre é vivida com total intensidade. Muitas são as situações que roubam a paz dentro das famílias, e uma dessas tantas causas é o rompimento dos laços afetivos entre irmãos por heranças. Na família do Barão de Congonhas não foi diferente. Os filhos do primeiro casamento entraram com ações judiciais para tentar reaver a partilha dos bens do finado Lucas Antônio, alegando que foram lesados pelo inventariante Domiciano Ferreira, filho do segundo casamento do Barão. O Barão ao declarar os bens de sua primeira esposa Helena Maria no seu inventário em 1859, omitiu a existência de ações no Banco do Brasil, que só foram aparecer logo após sua morte em 1891. Isso corroborou para a desavença entre os filhos do primeiro casamento com os filhos do segundo casamento, que não aceitaram dividir a herança que pertencia a sua mãe, Helena Maria Monteiro de Barros. O processo durou por mais 4 anos depois da morte do Barão sendo encerrado no dia 23 de julho de 1895. Abaixo mostra-se o recorte do jornal Minas Geraes de 16 de abril de 1893, decretando a reforma do inventário pelo Relator, desembargador Augusto Olyntho e pelos revisores Rezende Costa e Gama Cerqueira no dia 15 de abril de 1893.

Recorte do Jornal O Estado de Minas Geraes, Anno II, Edição 162, datado de 10 de junho de 1891, convidando parentes e amigos para a missa de  sétimo dia do finado Barão.

Foto de Lucas Antônio de data desconhecida do acervo de Marcionila Monteiro de Castro, bisneta do Barão, e restaurada por Breno Booz e sua assinatura retirada da sua carta de pedido ao baronato enviada em 10 de novembro de 1864 ao Presidente da Província de Minas Gerais.

Carta de concessão ao título de Segundo Barão de Congonhas dado a Lucas Antônio, retirada no Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.

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