Genealogia documental aliada a genética: da importância à aplicação prática
Maria Aparecida Monteiro Guimarães de Carvalho, dona Mariinha, minha grande incentivadora das pesquisas genealógicas.
Como aliar a pesquisa genética a genealogia documental na prática? É muito complicado para a pessoas que não possuem a genealogia documental avançada constatar DNA’s compartilhados com algum primo distante a um elo de ancestral em comum. No meu caso, obtive grande ajuda de minha avó materna, Maria Aparecida Monteiro Guimarães de Carvalho, chamada carinhosamente de Mariinha, que adorava a genealogia e já fazia em folhas de papel e anotações num livro da família desde meados do século XX. Esse é o livro da Família Monteiro de Barros, escrito por Frederico de Barros Brotero. Nele, no título II, página 226, Descendência de João Gualberto Monteiro de Barros, Mariinha Monteiro escreve: “pai da minha tataravó materna”. Fui então averiguar os fatos:
João Gualberto foi filho do Guarda-mor Manuel José Monteiro de Barros e de Dona Margarida Eufrásia da Cunha Matos, nascido pelos idos de 1770 em Congonhas do Campo. Seguindo o exemplo de seu irmão mais velho, o Visconde de Congonhas, foi para Portugal e matriculou-se na Universidade de Coimbra. Através de pesquisas no site da Universidade de Coimbra, gerei um relatório de descrição da sua matrícula: cursou a Faculdade de Direito a 5 de outubro de 1787 e na Faculdade de Matemáticas a 25 de outubro de 1788, formado em 12 de junho de 1792, aprovado Nemine Discrepante, atos nº5, folha 145. Aos 3 de junho de 1791, no Cartório da Câmara Eclesiástica de Mariana, foi lhe dada uma petição despachada nos autos de habilitação canônica "de Genere et moribus", sendo referido no documento como "Reverendo Padre José Gualberto Monteiro de Barros", o que não chegou a levar a efeito. Ao voltar para o Brasil tratou-se logo de atuar como engenheiro mineralógico, sendo observado suas assinaturas em despachos de sesmarias na província de Minas Gerais no final do século XVIII e início do século XIX.
João Gualberto Monteiro de Barros (1770-1811). Arte feita por mim no Photoshop para representação do meu heptavô, baseada em traços faciais dos seus irmãos, Barão do Paraopeba e Visconde de Congonhas.
Assinatura de João Gualberto retirada da concessão da Sesmaria da Matta a Joaquim Rodrigues de Carvalho, situada na Freguesia de Itabira do Campo. Documento retirado no Arquivo Público Mineiro.
Em 22 de novembro de 1794, casou-se em Vila Rica com Ana Felizarda Joaquina de Oliveira, filha de José Veríssimo da Fonseca, este tabelião, escrivão da Ouvidoria e tesoureiro da Câmara de Vila Rica, e de Ana Felizarda Joaquina da Fonseca, pais também da então Francisca Constantina Leocádia da Fonseca, Baronesa do Paraopeba, esta casada com o irmão de João Gualberto, Romualdo José Monteiro de Barros, o Barão do Paraopeba.
Desta união só existiu uma filha, homenageada com o nome da irmã mais nova de João Gualberto: Maria do Carmo Monteiro de Barros, nascida em 29 de agosto de 1795 em Congonhas do Campo e falecida na mesma cidade por volta de 1848. João Gualberto foi vereador duas vezes em Vila Rica seguindo as ordenações do Reino: a primeira vez no ano de 1795 sendo eleito o 3º vereador da 85ª Câmara e a segunda vez no ano de 1798 sendo também eleito o 3º vereador da 88ª Câmara de Vila Rica de Ouro Preto. Em 24 de julho de 1807 foi concedido a João Gualberto duas sesmarias: uma no Ribeirão das Areias e outra em Passa Quatro, freguesia do Jacuí. João Gualberto morreu em 25 de março de 1811 em Congonhas do Campo.
Maria do Carmo Monteiro de Barros, a filha única de João Gualberto e Ana Felizarda, casou com o Capitão Manoel Lobo Leite Pereira, nascido no distrito de Cachoeira do Campo, Ouro Preto, no ano de 1767 e faleceu no distrito de Soledade, Congonhas do Campo, no dia 9 de junho 1842. No capítulo 10, página 227, Mariinha Monteiro também deixa um lembrete: “minha tataravó”, ao lado do nome de Maria do Carmo. O casal teve 6 filhos descritos no livro:
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Matheus Herculano Pereira Lobo casado com Maria Ferreira de Jesus
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Maria Fortunata Monteiro de Barros casado com Joaquim Lourenço Baeta Neves
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Ana Carolina Monteiro de Barros casada com José Inácio Nogueira Penido, onde Mariinha Monteiro na página 46 escreve no canto da folha: “mãe e pai da avó Tita” (apelido de sua avó, Maria da Conceição Penido Monteiro de Castro). Essa geração se encerrava aqui na obra de Brotero.
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José Francisco Pereira Lobo casado com Mariana da Purificação da Cruz Machado
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Fortunata Augusta Monteiro de Barros casada com Joaquim Francisco Baeta Neves, irmão de Joaquim Lourenço citado acima.
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Joaquim Pereira Lobo casado com Josefina da Cruz Machado, irmã da Mariana da Purificação citada acima.
Manoel era filho do Capitão Luiz Lobo Leite Pereira e de Maria Josefa d’Ávila e Silva, neto paterno do Coronel João Lobo Leite Pereira e de Thereza d’Ávila da Silva e Figueiredo, neto materno de Manoel Coelho Rodrigues e de Josefa d’Ávila da Silva e Figueiredo, sobrinha materna de Thereza. A ascendência do capitão Manoel é bastante descrita por muitos genealogistas, sendo este descendente de grandes personalidades da história do Brasil, como o bandeirante Garcia d’Ávila e a índia tupinambá Francisca Rodrigues, de Diogo Álvares Correia o dito Caramuru e a índia tupinambá Paraguaçu. Em Portugal, ascende diretamente por parte de sua trisavó Maria Lourenço de Portugal (1651-1741) aos Silva Telo de Menezes que são os Condes de Aveiras, dos Pires de Castros que são os marqueses de Cascais e condes de Monsanto, ascende a corte portuguesa, bem como aos Reis de Portugal da casa Borgonha, aos Reis da Inglaterra da casa de Plantageneta, e aos Reis da Espanha de Castela e Leão.
Genealogia paterna de Manoel Lobo Leite Pereira
Genealogia materna de Manoel Lobo Leite Pereira
Através das anotações no livro poderia afirmar toda minha linhagem matrilinear pelas anotações de minha avó. Porém, um homônimo a fez pular uma geração e definir sua tataravó erroneamente (no caso, tataravó era usado por ela para definir trisavó). A realidade é que Ana Carolina Monteiro de Barros que é sua trisavó. Em 21 de dezembro de 2015 retirei no Cartório de Registro Civil de Belo Vale a certidão de óbito da avó Tita para averiguar a filiação e lá constava: Manuel Lúcio Nogueira Penido e Anna Carolina Nogueira Penido. Ainda assim não consegui lincar as gerações descritas por minha avó no livro, com a recém descoberta dos nomes dos seus bisavós. Somente 3 anos depois, em 20 de abril de 2018, através de pesquisas em conjunto com Luiza Coutinho no FamilySearch, descobriu-se o registro de batismo de Anna Carolina Nogueira Penido, de 7 de janeiro de 1851 em São José do Paraopeba, filha de José Ignácio Nogueira Penido e Anna Carolina Monteiro de Barros. Assim comprovei documentalmente minha ascendência matrilinear a João Gualberto Monteiro de Barros e Ana Felizarda Joaquina de Oliveira.
Minha linhagem matrilinear: em primeiro plano, eu e minha mãe Luzia Guimarães de Carvalho; em segundo plano, minha mãe e minha avó Maria Aparecida Monteiro Guimarães de Carvalho; em terceiro plano, minha bisavó Maria Gertrudes Monteiro de Castro e minha avó; em quarto plano minha bisavó e minha trisavó Maria da Conceição Penido Monteiro de Castro (vó Tita, filha de Ana Carolina Nogueira Penido, neta materna de Ana Carolina Monteiro de Barros, bisneta materna de Maria do Carmo Monteiro de Barros, trineta materna de João Gualberto Monteiro de Barros e Ana Felizarda Joaquina da Fonseca).
Através de dois matches com a prima Adrienne Ladeira Baeta Costa e com a prima Solange Fátima da Silva que tive no site MyHeritage, no dia 9 de outubro de 2020, pude identificar o nosso elo de ancestralidade e comprovar toda essa história deslanchada até aqui.
Minha mãe compartilha com Adrienne cerca de 0,8% de DNA em comum: são 54,3 centimorgans, dispostos nos cromossomos 6 e 12. De início, não sabia a origem do nosso DNA, porém através do seu sobrenome Baeta, associei o nosso elo ancestral a de Maria do Carmo Monteiro de Barros e Manoel Lobo Leite Pereira, pois seus filhos se associaram as Famílias: Ferreira de Jesus, Baeta Neves, Nogueira Penido e da Cruz Machado. Eu compartilho com Adrienne cerca de 0,6% de DNA em comum: são 44,9 centimorgans, também dispostos nos cromossomos 6 e 12.
Já com a prima Solange, minha mãe compartilha cerca de 1,1% de DNA em comum: são 54,3 centimorgans, dispostos nos cromossomos 1, 5, 8 e 15. Eu compartilho com Solange cerca de 0,4% de DNA em comum: são 29,7 centimorgans, também dispostos nos cromossomos 1 e 15.
Voltando novamente a obra da Família Monteiro de Barros, realizei uma breve pesquisa e consegui achar nossas relações entre as distâncias de gerações aos nossos antepassados em comum aplicados ao estudo da nossa herança genética, sendo a primeira imagem abaixo em relação a prima Adrienne e a segunda imagem em relação a prima Solange.
Pela quantidade de DNA compartilhado (54,3 cM por minha mãe e 44,9 cM por mim), a tabela do projeto Centimorgan Compartilhado (BLAINE, 2017), disposta no artigo: Testes de DNA para a genealogia, nos informa que Adrienne e eu teríamos um tetravô em comum, porém devido as endogamias, tanto por parte da minha ascendência (meus trisavós sendo primos e ambos Monteiros de Barros), tanto por parte da ascendência de Adrienne (seus avós são primos de primeiro grau), nossos antepassados em comum são: Maria do Carmo Monteiro de Barros e Manoel Lobo Leite Pereira sendo meus hexavós, e pentavós de Adrienne. A tetravó de Adrienne, Maria Fortunata Monteiro de Barros, é irmão de minha pentavó Ana Carolina Monteiro de Barros.
Para o caso de Solange, pela quantidade de DNA compartilhado (80,8 cM por minha mãe e 29,7 cM por mim), a tabela do projeto Centimorgan Compartilhado (BLAINE, 2017) nos informa que Solange e eu teríamos um trisavô/tetravô em comum, porém devido as endogamias por parte da minha ascendência (meus trisavós sendo primos e ambos Monteiros de Barros) nossos antepassados em comum: José Inácio Nogueira Penido e Ana Carolina Monteiro de Barros e Manoel Lobo Leite Pereira sendo meus pentavós, e tetravós de Solange. O trisavô de Solange, Agostinho Nogueira Penido, é irmão de minha tetravó Ana Carolina Nogueira Penido.
Se reconectar ao passado, não tem preço! Ainda mais quando esse passado está nas células que compõem seu corpo, compõem a sua essência. Quando conhecemos nossa história familiar, percebemos certas circunstâncias e temos a chance de resignificá-las.